Saúde Mental Pós-Parto
Mitos, verdades e o que devemos falar
Como psicoterapeuta que apoia pais no período perinatal, já ouvi de tudo: conselhos bem-intencionados, clichês generalizados e lutas internas disfarçadas de sorrisos. O pós-parto é uma transformação profunda, não apenas física, mas também emocional, mental e relacional.
No entanto, apesar da conscientização crescente, muitas pessoas ainda sofrem em silêncio devido a mitos que romantizam ou simplificam demais essa fase intensa da vida. Vamos mudar isso. Abaixo, alguns dos mitos mais comuns.
Mito: “É só a tristeza do bebê, vai passar.”
Verdade: Embora até 80% das novas mães experimentem a "tristeza pós-parto" nas primeiras duas semanas após o parto, sintomas mais graves e duradouros podem indicar depressão ou ansiedade pós-parto. Essas são condições reais e tratáveis — não algo para "simplesmente superar". O apoio precoce faz a diferença.
Mito: “Você vai adorar ser mãe.”
Verdade: Você pode ame seu bebê e ainda assim ache a maternidade difícil. Nem sempre é uma jornada alegre — às vezes é confusa, solitária e avassaladora. Amor e luta podem coexistir.
Mito: “Aproveite tudo, passa rápido.”
Verdade: Você não precisa saborear cada segundo. Alguns momentos são lindos; outros são exaustivos ou dolorosos. Tudo bem não aproveitar tudo. Presença não exige perfeição.
Mito: “A depressão pós-parto afeta apenas as mulheres.”
Verdade: Todos os pais podem enfrentar desafios de saúde mental no pós-parto, incluindo pais e parceiros que não estão dando à luz. Alterações hormonais, mudanças de identidade e o estresse da nova paternidade afetam a todos.
Mito: “Você ficará exausto 24 horas por dia, 7 dias por semana.”
Verdade: Sim, a fadiga faz parte desta fase, mas a recuperação e o descanso também. Busque apoio, reveze-se com seu parceiro, se possível, e aceite ajuda. Você também merece cuidado.
Mito: “Durma quando o bebê dormir.”
Verdade: Nem sempre é tão simples. Às vezes, esses momentos são sua única chance de comer, tomar banho ou simplesmente viver em silêncio. Se possível, delegue tarefas, descanse em turnos e não se culpe por não tirar um cochilo na hora certa.
Mito: “Amamentar é natural e lindo.”
Verdade: Pode ser — mas também pode ser doloroso, frustrante e emocionalmente desgastante. Aprender a amamentar muitas vezes requer apoio e paciência. Pergunte a si mesma: Estou bem agora? Isso está funcionando para mim e para minha saúde mental?
Mito: “Pelo menos você tem um bebê saudável.”
Verdade: Gratidão e tristeza podem coexistir. Sim, ter um bebê saudável é uma bênção — mas você tem o direito de lamentar o parto que não teve, a perda de si mesmo ou a mudança de identidade que a deixou em carne viva.
Mito: “Uma boa mãe sempre coloca o bebê em primeiro lugar.”
Verdade: Uma boa mãe também cuida de si mesma. Auto-negligência não é sinônimo de amor. Seu filho se beneficia quando você tem recursos, descanso e apoio emocional.
Mito: “Confie nos seus instintos, você saberá.”
Verdade: Às vezes, você não sabe. Isso não significa que você esteja quebrado — significa que você é novo nisso. Busque informações confiáveis, faça perguntas e busque orientação. Você não precisa saber tudo.
Mito: “É preciso uma aldeia.”
Verdade: Sim, mas construir essa aldeia leva tempo — e, às vezes, perdas. Amizades mudam. Algumas pessoas se afastam. Isso também faz parte desta fase da vida. Se você ainda não encontrou sua aldeia, não está sozinho — e ainda está fazendo um trabalho incrível.
Mito: “A depressão pós-parto desaparece por si só.”
Verdade: Sem apoio, os transtornos de humor pós-parto podem persistir. Quanto mais cedo você procurar ajuda, melhor será sua recuperação. Terapia, medicamentos, grupos de apoio — todas essas são ferramentas válidas.
Mito: “Mães com DPP podem prejudicar seus bebês.”
Verdade: Pensamentos intrusivos podem ocorrer, mas geralmente são indesejados e angustiantes, e não geram reação. A psicose pós-parto — uma condição rara e grave — é diferente e requer atendimento médico urgente. Não tenha medo de expressar seus pensamentos.
Mito: “O choro é o principal sintoma da DPP.”
Verdade: A DPP pode se manifestar como raiva, dormência, ansiedade, dificuldade para dormir — mesmo quando o bebê dorme — ou perda de interesse por coisas que você antes gostava. Ela se manifesta de forma diferente em cada pessoa.
Mito: “Na minha época, fazíamos as coisas assim… Eu fiz isso com você e veja como você está saudável.”
Verdade: Nossos pais fizeram o melhor que podiam com o que sabiam — e nós também. Mas a ciência evolui. O que sabemos agora pode ajudar a prevenir riscos, como sufocamento por protetores de berço, práticas de sono inseguras, desmame antes que o organismo do bebê esteja pronto, introdução de sal antes de 1 ano de idade e introdução de telas ou açúcar antes dos 2 anos de idade. Utilizar cuidados atualizados e baseados em evidências não é desrespeitoso — é parentalidade informada.
O pós-parto não é apenas uma fase — é uma mudança radical na sua identidade, nos seus relacionamentos e no seu sistema nervoso. O melhor presente que podemos dar aos novos pais é espaço para eles. completo experiência emocional — não apenas a alegria selecionada.
Se você está lendo isso e se identifica com você, saiba que precisar de ajuda não é fraqueza. É sabedoria. Você não está falhando. Você está se adaptando, aprendendo e se curando.
E você não está sozinho.
Recursos:
https://health.sunnybrook.ca/myths-postpartum-depression-pregnancy/
https://www.camh.ca/en/health-info/mental-illness-and-addiction-index/postpartum-depression
Samara Tomaz Araújo Damasceno
Psicoterapeuta registrado (qualificado) no College of Registered Psychotherapists of Ontario – 16111
ID de membro profissional da Associação Canadense de Aconselhamento e Psicoterapeuta – 11248350